22/05
Após quebra climática, Brasil acelerou exportações e deixou as processadoras com matéria-prima limitada. Saída é procurar grãos na vizinhança
Cassiano Ribeiro
Depois de ampliar em um terço só as exportações de soja em grão no primeiro quadrimestre deste ano – ao todo, foram embarcadas 3,4 milhões de toneladas a mais de grão, óleo e farelo, na comparação com 2011 –, o Brasil reduziu drasticamente seus estoques. Agora, o segundo maior fornecedor mundial da commodity prepara-se para aumentar as importações do produto na entressafra, prevista para a partir de agosto.
Paraná e Rio Grande do Sul, que sofreram quebra com a seca, precisarão buscar cerca de 500 mil toneladas de soja a mais do que o normal, conforme os especialistas. O volume deve ser suprido pelos estados do Centro-Oeste e principalmente pelo Paraguai, país com vocação exportadora, mas que também foi severamente prejudicado pela seca durante o verão.
Neste momento, a indústria tem procurado se ajustar às perspectivas de aperto nos estoques de soja, reduzindo ou escalonando o esmagamento do grão. Mesmo assim, prevê que precisará de reforço para manter as máquinas em atividade.
“Existe o risco de faltar [soja] a partir de setembro. Por isso, estamos nos organizando para, se necessário, buscar em Mato Grosso”, afirma Luiz Lourenço, presidente da Cocamar, de Maringá. A cooperativa opera com 100% da capacidade de esmagamento e mantém a meta de processar 1 milhão de toneladas de soja neste ano.
Por outro lado, a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) calcula que 38% da capacidade de processamento da indústria brasileira ficará ociosa até dezembro, contra 34% em 2011. A entidade considera que o esmagamento vai cair de 36,8 milhões de toneladas para 34,8 milhões de toneladas.
Principal fornecedor de soja para o Sul do país, Mato Grosso está com cerca de 90% da sua colheita comercializada. Da lista dos fornecedores, portanto, restaria Mato Grosso do Sul, também castigado pelo clima, e Goiás, conclui Aedson Pereira, analista de mercado da consultoria paulista Informa Economics FNP. Além dos dois estados, o Paraguai tende a ser a principal via de entrada de soja, caso o país recorra ao comércio exterior. O país vizinho é responsável por enviar entre 70% e 80% do volume de soja importado pelo Paraná em anos normais, levantamento da Informa.
“O Paraná costuma trazer entre 600 mil e 700 mil toneladas de estados do Centro-Oeste e principalmente do Paraguai. Neste ano, esse volume pode chegar a 1 milhão de toneladas, de acordo com as tradings”, revela Pereira. O Rio Grande do Sul já começou a buscar soja em fontes alternativas e pode precisar de até 500 mil toneladas para suprir o seu consumo industrial, 200 mil a mais do que em anos de boa safra.
“Algumas usinas de biodiesel do Rio Grande do Sul estão procurando outras matrizes para transformação, como a canola. Não consigo imaginar a engenharia necessária para se trazer soja do Mato Grosso ou do Paraná”, afirma Carlos Cogo, analista e sócio da Cogo consultoria, de Porto Alegre.
Cogo inclui a Argentina na relação de possíveis fornecedores de soja para o Brasil, mas somente num caso extremo. “Eles [argentinos] têm tarifa para exportação e uma indústria de biodiesel maior que a brasileira, além de também terem enfrentado quebra”, acrescenta.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calcula que a importação de soja em grão do Brasil será de apenas 50 mil toneladas neste ciclo, 9 mil toneladas acima de 2010/11. Para o farelo de soja, produto utilizado na cadeia de carnes como nutrição animal, a Conab projeta importação de 35 mil toneladas, contra 24,8 adquiridas do mercado internacional no ano passado.
Cotações podem definir tamanho da compra
As cotações da soja no mercado internacional devem ditar o tamanho da importação do Brasil. Se os preços da oleaginosa caírem na Bolsa de Chicago, as compras podem ser favorecidas, admite a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Em Paranaguá, a oleaginosa atingiu recorde histórico de R$ 65 por saca de 60 quilos na última semana.
De olho no mercado, a Abiove não acredita que haverá uma escassez aguda no Brasil ou risco de desabastecimento. “O preço mais baixo pode viabilizar a importação, mas a China está muito firme do lado da demanda”, aponta Fábio Trigueirinho, secretário executivo da associação. Ele lembra, porém, que se a safra norte-americana for bem plantada, o que vem se confirmando a cada semana, as cotações da soja podem recuar.
Além de trabalhar com perspectivas de retração das cotações no segundo semestre, quando a colheita norte-americana ganha a atenção dos traders, o mercado cogita aumento na área plantada com a cultura no cinturão de produção norte-americano, o que na teoria ampliaria a oferta do produto e causaria desvalorização do grão. A expansão da oleaginosa pode ocorrer sobre a área de trigo de inverno, que deve ser colhido antes do normal, afirma Aedson Pereira, da Informa Economics FNP. Apesar de as cotações do grão terem recuado ligeiramente em alguns dias da semana passada, na Bolsa de Chicago, os negócios mantiveram-se aquecidos no Brasil.
“Os compradores [indústrias] estão correndo para ter oferta mais confortável e margem para trabalhar lá na frente. Enquanto isso, o produtor tem aproveitado para vender tanto a safra velha como a nova”, explica Pereira.
Diante da escassez de oferta de soja e da necessidade da indústria, os preços internos tendem a se descolar das cotações da Bolsa de Chicago na segunda metade do ano, avalia o analista Carlos Cogo. “Vai ser uma disputa acirrada por grão e óleo principalmente. Farelo não deve faltar.”
Colaborou Carlos Guimarães Filho.
Cassiano Ribeiro
Depois de ampliar em um terço só as exportações de soja em grão no primeiro quadrimestre deste ano – ao todo, foram embarcadas 3,4 milhões de toneladas a mais de grão, óleo e farelo, na comparação com 2011 –, o Brasil reduziu drasticamente seus estoques. Agora, o segundo maior fornecedor mundial da commodity prepara-se para aumentar as importações do produto na entressafra, prevista para a partir de agosto.
Paraná e Rio Grande do Sul, que sofreram quebra com a seca, precisarão buscar cerca de 500 mil toneladas de soja a mais do que o normal, conforme os especialistas. O volume deve ser suprido pelos estados do Centro-Oeste e principalmente pelo Paraguai, país com vocação exportadora, mas que também foi severamente prejudicado pela seca durante o verão.
Neste momento, a indústria tem procurado se ajustar às perspectivas de aperto nos estoques de soja, reduzindo ou escalonando o esmagamento do grão. Mesmo assim, prevê que precisará de reforço para manter as máquinas em atividade.
“Existe o risco de faltar [soja] a partir de setembro. Por isso, estamos nos organizando para, se necessário, buscar em Mato Grosso”, afirma Luiz Lourenço, presidente da Cocamar, de Maringá. A cooperativa opera com 100% da capacidade de esmagamento e mantém a meta de processar 1 milhão de toneladas de soja neste ano.
Por outro lado, a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) calcula que 38% da capacidade de processamento da indústria brasileira ficará ociosa até dezembro, contra 34% em 2011. A entidade considera que o esmagamento vai cair de 36,8 milhões de toneladas para 34,8 milhões de toneladas.
Principal fornecedor de soja para o Sul do país, Mato Grosso está com cerca de 90% da sua colheita comercializada. Da lista dos fornecedores, portanto, restaria Mato Grosso do Sul, também castigado pelo clima, e Goiás, conclui Aedson Pereira, analista de mercado da consultoria paulista Informa Economics FNP. Além dos dois estados, o Paraguai tende a ser a principal via de entrada de soja, caso o país recorra ao comércio exterior. O país vizinho é responsável por enviar entre 70% e 80% do volume de soja importado pelo Paraná em anos normais, levantamento da Informa.
“O Paraná costuma trazer entre 600 mil e 700 mil toneladas de estados do Centro-Oeste e principalmente do Paraguai. Neste ano, esse volume pode chegar a 1 milhão de toneladas, de acordo com as tradings”, revela Pereira. O Rio Grande do Sul já começou a buscar soja em fontes alternativas e pode precisar de até 500 mil toneladas para suprir o seu consumo industrial, 200 mil a mais do que em anos de boa safra.
“Algumas usinas de biodiesel do Rio Grande do Sul estão procurando outras matrizes para transformação, como a canola. Não consigo imaginar a engenharia necessária para se trazer soja do Mato Grosso ou do Paraná”, afirma Carlos Cogo, analista e sócio da Cogo consultoria, de Porto Alegre.
Cogo inclui a Argentina na relação de possíveis fornecedores de soja para o Brasil, mas somente num caso extremo. “Eles [argentinos] têm tarifa para exportação e uma indústria de biodiesel maior que a brasileira, além de também terem enfrentado quebra”, acrescenta.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) calcula que a importação de soja em grão do Brasil será de apenas 50 mil toneladas neste ciclo, 9 mil toneladas acima de 2010/11. Para o farelo de soja, produto utilizado na cadeia de carnes como nutrição animal, a Conab projeta importação de 35 mil toneladas, contra 24,8 adquiridas do mercado internacional no ano passado.
Cotações podem definir tamanho da compra
As cotações da soja no mercado internacional devem ditar o tamanho da importação do Brasil. Se os preços da oleaginosa caírem na Bolsa de Chicago, as compras podem ser favorecidas, admite a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Em Paranaguá, a oleaginosa atingiu recorde histórico de R$ 65 por saca de 60 quilos na última semana.
De olho no mercado, a Abiove não acredita que haverá uma escassez aguda no Brasil ou risco de desabastecimento. “O preço mais baixo pode viabilizar a importação, mas a China está muito firme do lado da demanda”, aponta Fábio Trigueirinho, secretário executivo da associação. Ele lembra, porém, que se a safra norte-americana for bem plantada, o que vem se confirmando a cada semana, as cotações da soja podem recuar.
Além de trabalhar com perspectivas de retração das cotações no segundo semestre, quando a colheita norte-americana ganha a atenção dos traders, o mercado cogita aumento na área plantada com a cultura no cinturão de produção norte-americano, o que na teoria ampliaria a oferta do produto e causaria desvalorização do grão. A expansão da oleaginosa pode ocorrer sobre a área de trigo de inverno, que deve ser colhido antes do normal, afirma Aedson Pereira, da Informa Economics FNP. Apesar de as cotações do grão terem recuado ligeiramente em alguns dias da semana passada, na Bolsa de Chicago, os negócios mantiveram-se aquecidos no Brasil.
“Os compradores [indústrias] estão correndo para ter oferta mais confortável e margem para trabalhar lá na frente. Enquanto isso, o produtor tem aproveitado para vender tanto a safra velha como a nova”, explica Pereira.
Diante da escassez de oferta de soja e da necessidade da indústria, os preços internos tendem a se descolar das cotações da Bolsa de Chicago na segunda metade do ano, avalia o analista Carlos Cogo. “Vai ser uma disputa acirrada por grão e óleo principalmente. Farelo não deve faltar.”
Colaborou Carlos Guimarães Filho.
Gazeta do Povo
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