sexta-feira, 18 de maio de 2012

O agronegócio brasileiro


O perfil do desenvolvimento econômico e social do Brasil tem se modificado nos últimos anos

Neri Dos Santos
O perfil do desenvolvimento econômico e social do Brasil tem se modificado nos últimos anos. O entendimento das relações entre crescimento industrial e desenvolvimento econômico e social vem se alterando de forma significativa nas últimas décadas. Até os anos 1970, desenvolvimento econômico era sinônimo da implantação de setores industriais tradicionais, como o siderúrgico e o automobilístico. Em contrapartida, o agronegócio era tido como atividade econômica típica de países em estágios iniciais do processo de desenvolvimento.
Os imperativos ambientais e de combate à desigualdade social estão modificando essa percepção. Importantes eventos ocorridos nos últimos anos - como o esgotamento da fronteira agrícola em diversas regiões do mundo, a concentração crescente da população mundial no meio urbano, as preocupações de natureza ambiental, a busca por fontes alternativas de energia e, sobretudo, o aumento da capacidade competitiva do Brasil neste setor - colocaram as atividades do agronegócio em posição estratégica na definição dos rumos da economia brasileira e nos sucessivos superávits na balança comercial de seu comércio internacional. 
De acordo com levantamento realizado pela Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (Ocde), o cenário sobre a produção de alimentos projeta a necessidade de crescimento em 20% até 2020 para atender à crescente demanda mundial. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) prevê que a União Europeia contribua com um aumento de 4% em sua produtividade, a Austrália com 7%, os EUA e Canadá com 15%, a Rússia e China com 26% e o Brasil com 40%. 
Em linhas gerais, pode-se afirmar que haverá um crescimento significativo do comércio internacional de alimentos e de matérias-primas de origem agrícola nos próximos anos. Para o planejamento de políticas governamentais do setor, é necessário responder a duas questões decisivas sobre o cenário para o agronegócio brasileiro: O desempenho dos últimos dez anos se manterá nas próximas décadas? Quais são as oportunidades e os desafios para o segmento no contexto mundial? Considerando-se os principais países produtores de alimentos e matérias-primas agrícolas, o Brasil foi aquele em que foram observados os maiores ganhos de produtividade no setor agropecuário entre 1960 e 2011. Nesse período, a produtividade elevou-se a uma taxa de mais de 2% ao ano, marca superior à verificada em países como a China (1,8%), a Índia e a Argentina (1,5%), os Estados Unidos e o Canadá (0,8%). 
Em anos recentes, especialmente a partir da década de 1990, esses ganhos de produtividade se expressaram na busca deliberada de inserção exportadora - como é o caso da celulose e da carne bovina -, no aumento da importância das atividades de processamento de alimentos e no esforço de inovação, tecnologia e gestão. 
Os ganhos de produtividade em todas as cadeias de produção do agronegócio brasileiro continuarão a sustentar a conquista de novas fatias de mercado, tanto de produtos processados quanto de matérias-primas de origem agrícola. Assim, a sustentação da competitividade no setor repousa, primordialmente, na capacidade de responder aos desafios do mercado internacional, o que exige esforços de inteligência, de inovação e obtenção de diferenciais tecnológicos. O crescimento da produção e do consumo de produtos de base agrícola nas próximas décadas será condicionado por uma dinâmica relacionada à elevação da eficiência nas atividades de produção e à manutenção do dinamismo nas atividades de processamento dos produtos agropecuários. 
Para que o agronegócio brasileiro seja capaz de se posicionar nesse processo de forma sustentável, é indispensável que esteja engajado na busca contínua de competitividade, o que implica um esforço inovador ainda maior tanto na agroindústria quanto em outras atividades de sua cadeia. 
A gestão do conhecimento, a inteligência competitiva e a inovação tecnológica são os principais alicerces da competitividade sustentável em todos os ramos de atividade empresarial, e o desempenho recente do agronegócio brasileiro comprova essa afirmação. Se se atentar para os alimentos, muitos exemplos poderiam ser traduzidos em abordagem semelhante. As atividades de P, D & I da Embrapa promoveram um aumento de produtividade na cultura de milho por hectare, nos últimos 30 anos, de cerca de cinco vezes - 80% de uma espiga de milho hoje é conhecimento. 
Os segmentos empresariais mais bem-sucedidos e mais promissores da produção nacional são aqueles que interagem melhor com o ambiente competitivo internacional, com a busca de um padrão tecnológico de ponta, seja em relação a produtos, a processos produtivos ou a técnicas de gestão, como é o caso do agronegócio brasileiro. Todavia, cabe ao governo fazer a sua parte, reestruturando a Política Agrícola nacional de maneira a reduzir a volatilidade da renda dos produtores rurais e a permitir uma mobilidade positiva e progressiva dos mesmos, em especial das classes C e D/E para classes superiores. 

Neri Dos Santos é doutor em Engenharia pelo Conservatoire National des Arts et Métiers de Paris, professor titular da UFSC e consultor técnico da Knowtec

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