Grupo de cientistas britânicos quer usar áreas desérticas para produzir alimentos, água limpa e energia renovável
NICHOLAS VITAL
NICHOLAS VITAL
Parece controverso, mas o deserto do Saara pode se tornar um dos celeiros do mundo em pouco tempo. Esta, pelo menos, é a idéia do cientista britânico Charlie Paton, que estuda há anos formas alternativas para a produção de alimentos em zonas extremamente secas. Depois de muitos experimentos, Paton e sua equipe finalmente apresentaram o Sahara Forest Project, uma técnica que permite utilizar a água do mar para irrigar e resfriar as estufas no meio do deserto. Segundo eles, a técnica é simples de ser adotada e 100% eficiente.
O projeto consiste na construção de grandes estufas equipadas com evaporadores, que convertem a água do mar em vapor. Este vapor resfria a estufa em até 15 graus, favorecendo o crescimento das plantas. Do outro lado da estufa, o vapor é condensado, transformando- se em água limpa, que pode ser usado tanto para a irrigação quanto para mover as turbinas acopladas aos painéis que captam a energia solar, gerando também uma quantidade razoável de energia elétrica.
"A falta de água potável deve ser um dos maiores problemas para o homem no século XXI. Sem água, a agricultura também será prejudicada, tornando o problema ainda maior", afirma Paton. "Felizmente, o mundo ainda tem muita água. Ela só está longe e é muito salgada. A possibilidade de transformar a água do mar em água potável pode tornar regiões áridas em potências da agricultura", continua o cientista.
Para provar sua teoria, Paton e sua equipe já mantêm "estufas inteligentes" em testes em Omã e nos Emirados Árabes. "A idéia é que os alimentos e energia produzidos abasteçam os moradores locais, mas o excedente pode ser enviado para a Europa", diz ele, lembrando que a água gerada no processo também pode ser utilizada para a plantação do pinhão manso, que serve de base para a produção do biodiesel e se adapta bem às regiões áridas.
Atualmente existem mais de 200 mil hectares de estufas convencionais na região do Mediterrâneo. A maioria delas, no entanto, usa água proveniente de poços artesianos, o que encarece a operação. Com a utilização da nova técnica, este custo seria eliminado, reduzindo drasticamente o preço final dos alimentos.
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