Porém, antes de entrarmos em uma discussão mais profunda sobre as culturas, nós gostaríamos de fazer uma reflexão sobre a situação das cadeias produtivas brasileiras, principalmente a do leite. Os dados do último censo agropecuário realizado no Brasil (IBGE, 2006) mostraram que os pequenos produtores representavam a maioria em diversas cadeias produtivas. Na atividade leiteira, por exemplo, 58% deles possuíam pequenas propriedades ou desenvolviam agricultura familiar. Outro dado do censo de 2006 mostrou que, em média, as fazendas leiteiras brasileiras possuem apenas 24 vacas e que a produtividade dos animais é baixa. Se considerarmos os 10 países que mais produzem leite no mundo, o Brasil possui as vacas menos produtivas, estando somente atrás da Índia (USDA, 2012). Então, o cenário da maioria é: rebanho pequeno e não especializado.
Desse modo, as questões que nos intrigam são: Todas as propriedades devem possuir cana de açúcar como volumoso suplementar ou o capim-Elefante ainda nos interessa? Nós vamos ‘tapar os olhos’ para a maioria dos produtores e vamos olhar somente para os ‘grandões’, ou seja, recomendar em qualquer caso a cana de açúcar?
Nós levantamos estes questionamentos porque a maioria dos técnicos pensa somente naqueles pecuaristas que podem pagar por uma assistência técnica, os quais são capitalizados e produzem animais de melhor genética, e as políticas públicas brasileiras esquecem-se da maioria a qual, infelizmente, é descapitalizada e se encontra em uma situação de ‘abandono’. Desse modo, os pequenos ouvem sobre as recomendações feitas aos capitalizados, as quais nem sempre são úteis a eles. Um exemplo desta situação é qual cultura utilizar como capineira e, no fervor da era cana de açúcar, muitos pequenos substituíram a capineira de capim-Elefante por cana e agora estão retornando ao capim, pois não foram apresentadas a eles as diferenças de cunho agronômico e logístico que estas espécies possuem. Portanto, na Tabela 1 se encontram algumas vantagens e as desvantagens de cada cultura, cabendo ao técnico ou ao produtor fazer a sua escolha de acordo com a realidade do seu sistema de produção.
Tabela 1. Algumas vantagens e desvantagens das principais culturas utilizadas como capineira
Ressalta-se que o capim-Elefante demanda uma adequada reposição de nutrientes em sincronia à realização dos cortes, o que invariavelmente é negligenciado, pois o crescimento desta espécie, assim como dos demais capins tropicais, concentra-se na época de abundância das chuvas. O maior problema, no entanto, é verificado quanto ao modo como são conduzidos os cortes das capineiras. É comum observar crescimento máximo durante a época das águas, resultando em materiais altamente fibrosos e pobres em nutrientes para serem utilizados na época seca.
Para finalizar, gostaríamos de pontuar os seguintes aspectos, os quais merecem reflexão:
• As culturas não competem entre si, ou seja, nós devemos analisar os aspectos agronômicos, logísticos, econômicos e de infraestrutura, inclusive a disponibilidade e qualidade da mão de obra para decidirmos qual espécie cultivar;
• A cana de açúcar deve continuar sendo incorporada nos sistemas de produção brasileiros, contudo, com cautela, pois poderemos ‘queimar’ esta tecnologia caso ela não seja bem entendida por aqueles que a usam;
• O capim-Elefante pode e deve ser utilizado como opção forrageira, na forma de capineira, principalmente por aqueles que criam animais de baixo potencial de produção, que não possuem estrutura suficiente para substituir um canavial a cada 5-6 anos e que não consigam mudas de variedades produtivas de cana com certa facilidade. Isso não significa que nós estamos estimulando a baixa produtividade das fazendas. Apenas estamos adequando às situações do presente para que se tenha um cenário diferente e promissor para o futuro.
Thiago Fernandes Bernardes
Rafael Camargo do Amaral
29/04/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário